Clínica Padma

Filme “ Um homem chamado Ove” (2015)

Diretor: Hannes Holme

Setembro tem sido representativo na saúde mental por ser o mês do setembro amarelo, campanha que busca conscientizar a população sobre a importância da prevenção ao suicídio. Esse tema não é importante só para aqueles que nesse exato momento estão com pensamentos de morte ou suicidas, mas de todos, visto que é fundamental estarmos preparados para lidar com essas questões caso elas apareçam em nosso ciclo social, acometendo familiares, amigos e pessoas próximas. Ademais, a questão da finitude é um saber que, por mais que tentemos negar, faz parte de nossa constelação de certezas. Finitude tanto nossa, como daqueles que amamos.

Para contribuir para essa discussão, escolhemos como filme do mês “Um homem chamado Ove” (2015) por tratar de temas importantes sobre a vida. Você já parou para pensar que toda reflexão sobre a morte traz essencialmente uma reflexão sobre a vida? No filme esse tema está retratado no luto em que o protagonista Ove está passando, perdeu sua mulher, companheira de muito tempo e parece que com ela foi também aquele gosto pela vida e pelas coisas do mundo, o que deu lugar à sua irritabilidade, apreço ainda maior por regras, tudo tem que estar no seu devido lugar, somado aos movimentos de tentativa de afastamentos de qualquer pessoa que tente se aproximar dele. E nesse ponto que vemos o paradoxo, a cada movimento de afastamento da vida, um vizinho chega de mudança, outro bate à sua porta para pedir algo, adiando o ato que pode ser decisivo para a quebra de contato com a realidade – o suicídio. Na trama, os adiamentos da ação fatal, revela algo fundamental, que muitas vezes quem está em sofrimento não consegue enxergar. As crises passam, não no tempo que desejamos, mas temos a capacidade de elaborar os lutos, de passar pelas crises, de suportar as separações e irmos em busca de novos reencontros e esse, essencialmente, é o movimento da vida. O filme trata de uma busca constante por elaboração, não sem os outros, não sem os vizinhos e pessoas próximas, processos de elaboração em que todos possamos, cada um vivendo seu próprio momento de vida, elaborar as passagens e rupturas que permitem o novo. Talvez a certeza da finitude não seja o mais animador dos motivos para nos mantermos vivos, mas a certeza de que encontros e histórias marcam vidas, as nossas e as dos outros, abram espaço para um passo a mais, um abrir-se para uma nova experiência, na certeza de que quando a morte chegar, o caminho já tenha sido trilhado e as marcas das lembranças jamais apagadas. Façamos da morte, mais uma forma de contemplação da vida. Se precisar, busque ajuda!

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