Clínica Padma

Filme “ Depois a louca sou eu”

Filme “ Depois a louca sou eu”

 Diretora: Júlia Rezende Autora: Tati Bernardi

Em uma mistura de caos e aventuras, de erros e acertos regados pelos impasses das relações cotidianas, seja na família, no amor ou no trabalho. O filme mostra de forma irreverente as dificuldades de uma jovem mulher que tenta lidar com sua inadaptação em alguns ambientes e com seus sintomas ansiosos. Talvez, o mais marcante dos pontos seja a sua determinação, pois mesmo com todos os problemas, seus sintomas, medos e angústias, não é uma opção recuar. Se está com medo, vai com medo mesmo!! Lógico que esse percurso e essa escolha não representam algo fácil, visto que implicam novas adaptações, frustrações, erros e etc. Por outro lado, se soma a tudo isso momentos de alegria, conquistas, acertos e histórias para contar. 

Em sua analogia de se sentir um saco de bolinhas de gude, que nos momentos de crise de pânico parecem se romper e se espalhar, sendo necessário para restabelecer o equilíbrio juntar todas essas bolinhas espalhadas por diferentes lugares. Ilustra a dimensão do sintoma, que no momento da crise, entre a angústia e os sinais físicos, a sensação da perda do controle de si e a desintegração dos elementos que compõem o que chamamos de eu remetem ao despedaçamento marcado pelas bolinhas de gude rolando em diferentes direções ao se romper o saco.

E como organizar tudo isso? Esse é o grande questionamento, não só daqueles que são acometidos pelos transtornos ansiosos, aqui em especial destaque o transtorno de pânico, mas todos aqueles que são acometidos por algum processo de adoecimento mental ou, pelo menos, sua grande maioria. A resposta não é fácil e também é muito bem ilustrada na trama do filme, perpassa por diferentes efeitos medicamentosos, do anestesiamento do sentir causado pelos benzodiazepínicos, ou o seu realce produzidos por um antidepressivo. Por outro lado, o que não pode faltar, alguma tentativa de achar um caminho ou uma resposta através de diferentes terapias, sejam elas psicológicas – psicanálise, terapia cognitivo comportamental, humanista e etc- ou por terapias alternativas – constelação familiar, práticas de retorno ao contato com a natureza- tudo parece válido para aquele que busca se livrar do sofrimento. Só que se livrar do sofrimento, não pode equivaler a se livrar de si mesmo, e aí temos o pecado capital praticado por aqueles que buscam no mundo externo o que está dentro de si. A questão das práticas terapêuticas têm que considerar a técnica, o sentido ou não que aquilo faz para você, mas não pode ser uma forma de delegar a um terceiro a solução de questões inerentes a pessoa, que se por um lado trazem os efeitos dolorosos de sintomas, por outro traz as características e as marcas da nossa personalidade. Como diz Caetano na música “dom de iludir” – “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Eu não diria que sabe, pois nem todos estão dispostos a enxergar aquilo que não seja compatível com sua imagem narcísica. Mas é possível, com a implicação necessária que não faz da ação um ato vão, mas um corte na própria carne. É meus caros leitores, não há caminho fácil, não há almoço grátis, mas pelo menos nos resta a boa e velha possibilidade de apreciar um bom filme.

Leandro Tavares de Oliveira

Psicólogo – CRP 06/101758

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